Martinelli: o primeiro arranha céu da América Latina
Obra do italiano Giuseppe Martinelli, o edifício marcou a transição da horizontalidade na cidade de São Paulo
Edifício Martinelli
Cai? Não cai? O grande assunto da cidade de São Paulo, durante boa parte do ano de 1928, era se a enorme ousadia chamada Prédio Martinelli se sustentaria ou desabaria sob o peso de suas desmesuradas pretensões. “Poderá ruir o Prédio Martinelli”, anunciava a manchete do Diário Nacional em 24 de maio.
Alegava-se que o italiano Giuseppe Martinelli, que em todos mandava e a quem tudo era permitido, fazia imprudentemente o prédio ir acrescentando andares e mais andares, desde 1924, a um projeto original que previa apenas catorze.
As controvérsias sobre o cai não cai foram acalmadas com as exigências da prefeitura de que Martinelli diminuísse o peso dos materiais, nos andares acima do 17º, e se contentasse com o limite de 25 deles. O italiano cumpriu inteiramente a primeira exigência e em parte a segunda. Sobre a laje do 25º andar, construiu uma mansão para uso próprio, com salões, dependências íntimas, áreas de serviço e até porões, além de jardins e terraços, perfazendo um bungalow, como o chamava, de cinco andares.
Localizado entre as ruas São Bento, Líbero Badaró e a Avenida São João, o prédio de 30 andares foi inaugurado em 1929 e, por muito tempo, considerado o mais alto de São Paulo e o primeiro arranha-céu da América Latina.
Além da altura de 130 metros, o Martinelli oferecia outros números grandiosos: 60 salões, 960 salas, 247 apartamentos, 510 telefones, 12 elevadores, 1 057 degraus e 2 133 janelas, segundo levantamento de Maria Cecília Naclério Homem, autora do livro O Prédio Martinelli – A Ascensão do Imigrante e a Verticalização de São Paulo.
Era uma miragem futurista, para usar palavra da época, na calma horizontalidade da cidade, mas também representava uma transição, ou uma indecisão. Os arcos, colunas, óculos, balaústres e esculturas da decoração da fachada refletiam as tradições europeias em que São Paulo quisera se refletir, enquanto a altura sugeria a entrada na era dos arranha-céus das cidades americanas.
Giuseppe Martinelli
Giuseppe Martinelli (1870-1947) nasceu nos arredores de Luca, na Toscana. Chegou ao Brasil em 1889 e teve seu primeiro emprego num açougue em São Paulo. Nos anos seguintes, em São Paulo, Santos e Rio de Janeiro, faria carreira no ramo da importação e exportação. Exportou café e importou artigos diversos. No passo seguinte, formou sua própria frota de navios, origem do Lloyd Nacional, por ele fundado em 1917. Já era rico, portanto, quando encetou a empreitada do prédio que levaria seu nome.
Tanto se envolveu no projeto que sugeriu, aprovou ou redirecionou cada detalhe. Na placa que ainda se lê ao pé do edifício, mandou gravar: “Prédio Martinelli. Projecto e desenho do proprietário, José Martinelli”. Ironicamente, o empreendimento, somado à crise de 1929, levou Martinelli à bancarrota. Nos anos seguintes, ele voltaria à navegação e ao comércio exterior, para refazer sua fortuna.
Em 1889 um imigrante Italiano desembarcava no Porto do Rio de Janeiro - seu objetivo era o mesmo de tantos outros que chegavam a América:Prosperar!
Esse imigrante, chamado Giuseppe Martinelli, foi excepcionalmente bem sucedido e em pouco mais de duas décadas havia construído um respeitável patrimônio.
Desejoso por deixar um legado mais permanente de seu trabalho, além de sua importante empresa de navegação em Santos, o Comendador Martinellidecide erguer na cidade São Paulo o mais alto arranha-céu da América do Sul, o Edifício Martinelli.
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A obra prometia uma enorme polêmica, pois a São Paulo de então não possuía nenhum edifício de grande estatura, sendo raros os prédios com mais de 5 andares. Planejado para alcançar a barreira dos 100 metros de altura, em uma estrutura não apenas alta como significativamente larga, o Edifício Martinelli marcaria uma transição para a era dos arranha-céus. Passou por momentos difíceis - inclusive, chegou-se a cogitar a sua demolição. Mas o prédio foi recuperado e voltou a ser um orgulho para a cidade..
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Em 1924 deu início à construção do prédio projetado para ter 12 andares, num grande terreno na então área mais nobre da capital, entre as ruas São Bento, Líbero Badaró e avenida São João. O autor do projeto era o arquiteto húngaro William Fillinger, da Academia de Belas Artes de Viena.Todo o cimento da construção era importado da Suécia e da Noruega, pela própria casa importadora de Martinelli. Nas obras trabalhavam mais de 600 operários. 90 artesãos, italianos e espanhóis, cuidavam do esmerado acabamento. Os detalhes da rica fachada foram desenhados pelos irmãos Lacombe, que mais tarde projetariam a entrada do túnel da av. 9 de Julho. Diversos imprevistos prolongaram as obras: as fundações abalaram um prédio vizinho – problema resolvido com a compra do prédio por Martinelli; os cálculos estruturais complexos levaram à importação de uma máquina de calcular Mercedes da Alemanha.
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Enquanto isso, Martinelli não parava de acrescentar andares ao edifício, estimulado pela própria população que lhe pedia uma altura cada vez maior – de 12 passou para catorze, depois dezoito e em 1928 chegou a vinte. Nessa época o próprio Martinelli já havia assumido o projeto arquitetônico, e, não se satisfazendo em fiscalizar diariamente as obras, também trabalhava como pedreiro – retomando assim a profisssão que exercera na juventude na Itália – e demonstrava enorme prazer em ensinar aos operários mais jovens os macetes da profissão.
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Quando o prédio atingiu vinte e quatro andares, foi embargado, por não ter licença e desrespeitar as leis municipais – havia um grande debate na época sobre a conveniência ou não de se construir prédios altos na cidade. A questão foi parar nos tribunais e assumiu contornos políticos, sendo aproveitada pela oposição para fustigar Martinelli e a prefeitura municipal. A questão foi resolvida por uma comissão técnica que garantiu que o prédio era seguro e limitando a altura do prédio a 25 andares. O objetivo de Martinelli, contudo, era chegar aos 30 andares, e o fez construindo sua nova residência com cinco andares no topo do prédio – tal como Gustave Eiffel fizera no topo de sua torre.
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O Martinelli impressionava não só pelas dimensões como pela rica ornamentação e luxuoso acabamento: portas de pinho de Riga, escadas de mármore de Carrara, vidros, espelhos e papéis de parede belgas, louça sanitária inglesa, elevadores suíços – tudo o que havia de melhor na época; paredes das escadas revestidas de marmorite, pintura a óleo nas salas a partir do 20º andar, 40 quilômetros de molduras de gesso em arabescos.O prédio possui reentrâncias, comuns nos hotéis norte-americanos da época, para ventilação e iluminação, e apresenta as três divisões básicas da arquitetura clássica: embasamento, corpo e coroamento. O embasamento é revestido de granito vermelho; no coroamento, falsa mansarda de ardósia. O corpo é pintado em três tons de rosa e recoberto de massa cor-de-rosa, uma mistura de vidro moído, cristal de rocha, areias muito puras e pó-de-mica, que fazia a fachada cintilar à noite. O revestimento tem três tons de rosa. O Martinelli inspirou Oswald de Andrade a chamar pejorativamente São Paulo de “cidade bolo de noiva”.
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Entre os inquilinos do prédio, partidos políticos como o PRP, jornais, clubes (ente eles o Palmeiras e a Portuguesa), sindicatos, restaurantes, confeitarias, boates, um hotel (São Bento), o cine Rosário, a escola de dança do professor Patrizi. O tino comercial do Comendador Martinelli se revelava até nas empenas cegas do prédio, que serviam de outdoor gigante para uma série de produtos, entre eles a “pasta dental Elba”, o “café Bhering” e a aguardente Fernet Branca – importada pelo próprio Martinelli.Mesmo antes de sua conclusão o prédio já havia se tornado um símbolo e ícone de São Paulo – em 1931 o inventor do rádio, Guglielmo Marconi, visitou a cidade e foi levado até o topo do edifício. Quando o Zeppelin sobrevoou a cidade em 1933, deu uma volta em torno do Martinelli.
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Contudo, para o Comendador a construção do prédio acarretou sérios problemas financeiros, e em 1934 foi forçado a vender o edifício para o governo da Itália. Em 1943, com a declaração de guerra do Brasil ao eixo, todos os bens italianos foram confiscados e o Martinelli passou a ser propriedade da União, tendo inclusive sido rebatizado com o nome de Edifício América.
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Com o fim da II Guerra, a cidade entrou em uma fase de enorme progresso que se refletiu em um boom imobiliário. Em 1947 o Martinelli perdeu o título de prédio mais alto de São Paulo para o vizinho Edifício do Banco do Estado. Porém o prejuízo foi a construção da massa gigantesca do Banco do Brasil do outro lado da av. São João no início dos anos 50, fazendo sombra ao Martinelli – que se tornou assim vítima da própria verticalização da qual tinha sido pioneiro.Nas décadas de 60 e início da de 70, o prédio entra em rápida decadência por uma série de fatores. O prédio se torna uma favela vertical, ocupado por famílias de baixa renda (o Martinelli era uma das poucas opções de moradia barata no centro) em péssimas condições de salubridade. O cenário é de um verdadeiro filme de terror. Nos corredores compridos e sombrios, onde crianças brincavam em meio à promiscuidade, espreitavam ladrões e prostitutas. Os elevadores pararam de funcionar; o lixo deixou de ser recolhido e passou a ser jogado nos poços de ventilação– as montanhas de lixo atingiam dezenas de metros de altura, e permeavam o prédio com um cheiro de morte.
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O Martinelli passou a cenário de vários crimes de grande repercussão nos anos 60, como o do menino Davilson, violentado, estrangulado e jogado no poço do elevador. O assassino nunca foi encontrado. Em meio à miséria e à degradação humana, uma igreja evangélica funcionava no 17º andar, atraindo os infelizes e desesperançados moradores do edifício.
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Então, em 1975 o recém-empossado prefeito Olavo Setúbal decidiu salvar o edifício. Desapropriou o prédio – foi necessária a intervenção do exército para retirar os moradores mais renitentes – e deu início à restauração. O responsável pelas obras foi o Engenheiro Walter Merlo, chefiando 640 operários. Os sistemas hidráulico e elétrico foram totalmente substituídos, novos elevadores foram instalados, a fachada foi limpa com jateamento de areia. Um moderno sistema de prevenção a incêndios foi instalado, tornando o Martinelli um dos mais seguros da cidade. Em 1979 foi reinaugurado, sendo ocupado por diversas repartições municipais, como a Emurb e a Cohab.
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fonte: internet/
http://www.prediomartinelli.com.br
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