quarta-feira, 7 de março de 2012

Palácios do RJ- Palácio Monroe, a história do Palácio destruído pelo Geisel, com ajuda de Lúcio Costa e do jornal O Globo

Queridos leitores, sempre busco
posts que possuam beleza estética, com requinte, com luxo
- mesmo que na simplicidade de formas e linhas- 
 sempre a excelência na decoração de hotéis, residências, palácios e sua arquitetura,com ambientes que, por serem tão exclusivos, jamais poderei usufruir e que  por através de fotos, todos podemos de alguma maneira 
conhecer, desfrutar e se inspirar.
 A decoração e arquitetura é a base deste blog- é só olhar os posts de hotéis que nunca me hospedei
e quem sabe nunca irei me hospedar, das cidades como Buenos Aires, Paris, Nova York e sempre divulgando a informação de lugares,  de revistas maravilhosas e  prestigiando a história destes, que amamos visitar,  através dos espetaculares  trabalhos de designers, arquitetos e engenheiros.
Pensei na minha cidade, Porto alegre e alguns prédios restaurados- Margs, Santander Cultural, Casa de Cultura Mário Quintana, a Confeitaria Rocco, a região da pça da Matriz e tantos outros , muitos abandonados, pichados,como por todo o Brasil- isso que o gaúcho tem orgulho de sê-lo, mesmo que da boca para fora. Reunindo informações
de decoração para meu apartamento em Florianópolis, de coisas que eu gosto no Rio,do edifício  Copacabana Palace, do hotel novo Palace Glória- que irá  re-inaugurar em 2013, com o luxo e arquitetura preservados de seu tempo áureo, do Rio Bossa Nova, das elegantes  décadas de 20 a 50.
Acabei encontrando uma lista de Palácios no Rio de Janeiro e
um  m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o, dentre vários, já destruído, que vou iniciar  com uma série de palácios e suas histórias.
Este ano o blog iniciou com uma série de posts sobre hotéis luxuosos em Nova York, Buenos Aires, que fica aqui do lado e parece tão Europa, e acessível para vários leitores, agora a partir deste, virão alguns palácios espetaculares ,
 seus moradores, seus arquitetos e obras.

 O texto que segue faz parte do site : wikipédia e mundo gump
O texto é tão bem escrito e esclarecedor que resolvi publicá-lo quase na íntegra no blog.



Palácio Monroe


palaciomonroe A volta do palácio Monroe 
                                                         foto do palácio sendo remontado no centro do Rio.

O palácio, foi originalmente projetado para ser o Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Saint Louis, 
nos Estados Unidos, em 1904. 
Concebido pelo  arquiteto e engenheiro militar,
  Coronel Francisco Marcelino de Sousa Aguiar
Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (Salvador, 2 de junho de 1855 — Rio de Janeiro 10 de novembro de 1935), foi um engenheiro e político brasileiro.
Foi prefeito do Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro) entre 1906 e 1909, nomeado pelo presidente Afonso Pena.
Filho do major do exército e ex-presidente da província do Maranhão Francisco Primo de Sousa Aguiar e de Johanna Maria Freund, austríaca, nasceu na capital da Bahia, e ficou órfão de pai aos treze anos de idade. Em 1869 ingressou na Escola Militar, como cadete. Tornou-se alferes-aluno em 1874, concluiu o curso de engenharia em 1876.
Foi prefeito do então Distrito Federal (Rio de Janeiro), de 16 de novembro de 1906 a 23 de julho de 1909. Reformou-se no posto de marechal em 1911.
Sousa Aguiar assumiu, em 1877, o cargo de instrutor-geral da Escola de Tiro de Campo Grande, no qual permaneceu até ser transferido para o Rio Grande do Sul em 1879, onde demarcou as fronteiras brasileiras como o Uruguai, no período de 1880 a 1888. Assumiu o cargo de secretário do ministro da Guerra em 1892, até integrar, no mesmo ano, a comissão que representou o Brasil em Chicago. Antes de partir, a pedido do então vice-presidente Floriano Peixoto, em poucos dias projetou o Hospital Central do Exército. Em 1893, assumiu o cargo de diretor-geral dos Telégrafos. Em 1896, tornou-se comandante da Escola Militar do Rio Grande do Sul e, em 1897, comandante do Corpo de Bombeiros, na capital da República, quando projetou o quartel central, cuja construção foi iniciada no ano seguinte. Foi promovido a general-de-brigada em 1904.
No ano seguinte, foi presidente da Comissão da Exposição do Brasil em Saint Louis; enquanto se encontrava nos EUA, incumbido pelo ministro do Interior, projetou o edifício da Biblioteca Nacional. Biblioteca Nacional aerea.JPG
A pedido do ministro da Fazenda, estudou a fabricação de cédulas para implantação dos serviços da Casa da Moeda e, por solicitação do ministro da Guerra, estudou o sistema estadunidense de fabrico da pólvora sem fumaça. Na Exposição, obteve o Grande Prêmio de Arquitetura com o projeto do Palácio Monroe.
Palácio Monroe (cartão-postal).jpg 

Sousa Aguiar morreu em sua residência, na rua Paiçandu, nº 222, na cidade do Rio de Janeiro, às 13 horas do dia 10 de novembro de 1935. Deixou viúva Maria Gabriela de Sousa Aguiar e os filhos: Gabriel de Sousa Aguiar, engenheiro-chefe da Diretoria de Engenharia da prefeitura do Rio de Janeiro; Miguel de Sousa Aguiar, engenheiro da Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo; Louis de Sousa Aguiar, médico; capitão Rafael de Sousa Aguiar; Geny, casada com Domecq de Barros; América, casada com Eugenio Lefki; e a religiosa Maria Angelina do Colégio Sion de Petrópolis. No enterro, a família dispensou as honras militares a que o marechal tinha direito, mas aceitou a oferta do prefeito Pedro Ernesto de a prefeitura arcar com as despesas do enterro, no Cemitério São João Batista, o qual decretou luto oficial de três dias.
o palácio foi criado a partir de  uma estrutura metálica capaz de ser totalmente desmontada. Dessa forma a construção foi erguida como previsto, em Saint Louis.

A edificação tinha  1700 metros quadrados de área construída. Os elementos de sua composição arquitetônica inscreviam-se na linguagem geral do ecletismo, num estilo híbrido, caracterizado por uma combinação liberal de diversas origens que marcou uma época de transição na arquitetura brasileira.

A imprensa norte-americana não poupou elogios à estrutura, destacando-a pela sua beleza, harmonia de linhas e qualidade do espaço. Na ocasião, o Pavilhão do Brasil foi condecorado com a medalha de ouro no Grande Prêmio Mundial de Arquitetura, o maior certame do gênero, à época.




Desmontado ao final do evento, a estrutura foi transportada para o Brasil, vindo a ser remontada na cidade do Rio de Janeiro em 1906, para sediar a Terceira Conferência Pan-Americana. O Barão do Rio Branco, por sugestão de Joaquim Nabuco, propôs que, ao Palácio de Saint-Louis, como era conhecido, fosse dado o nome de Palácio Monroe, em homenagem ao presidente norte-americano James Monroe, criador do Pan-Americanismo.

Entre 1914 e 1922, o Palácio Monroe foi sede provisória da Câmara dos Deputados, enquanto o Palácio Tiradentes
era construído. Com a inauguração deste, durante as comemorações do primeiro centenário da independência, o Senado Federal passou a utilizar o Monroe como sua sede.

O Senado Federal esteve fechado durante o Estado Novo (1937-1945). Ao término da ditadura, serviu como sede provisória do Tribunal Superior Eleitoral, entre 1945 e 1946.
Em meados da década de 1950, o Palácio sofreu uma obra de ampliação que lhe acrescentou um pavimento e ocupou o espaço das duas rotundas laterais, que eram vazias e serviam apenas como varandas decorativas.
Com a mudança do Distrito Federal para Brasília, em 1960, o Monroe passou a exercer a função de escritório de representação do Senado no Rio de Janeiro.
À época do Regime Militar, foi transformado em sede do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA).
Em 1974, durante as obras de construção do Metrô do Rio de Janeiro, o traçado dos túneis foi desviado para não afetar as fundações do palácio. Nessa época o Governo Estadual decretou o seu tombamento.


Uma campanha mobilizada pelo jornal O Globo, com o apoio de arquitetos modernistas como Lúcio Costa pediu a demolição do Palácio Monroe, sob alegações estéticas e de que o prédio “atrapalhava o trânsito“.



O então presidente Ernesto Geisel, que também não era favorável ao edifício, sob a alegação de que prejudicava a visão do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, não concedeu o decreto federal de tombamento e, em março de 1976, o monumento foi demolido.
No terreno assim desocupado, foi construída uma praça com um chafariz monumental, originalmente instalado na praça da Bandeira. Lamentavelmente todo o seu rico acervo foi leiloado “a preço Banana”.



Isso explica uma misteriosa curva que surge logo após a estação Cinelândia. A única intervenção necessária para o metrô foi o desmonte da escadaria de mármore, que exigiu a vinda de uma equipe especializada da Itália. A escada, seria reconstruída logo após a conclusão do túnel.


Quem mandou demolir o palácio foi o presidente Ernesto Geisel. Por quê? 
O General Ernesto Geisel era o quarto presidente militar desde o Golpe de 64. Ele foi empossado pelo Colégio Eleitoral em 1974. Geisel nutria um ferrenho horror pelo filho do Coronel Arquiteto Francisco Marcelino de Souza Aguiar, o genial projetista do Palácio Monroe. A raiva que Geisel sentia dele foi originada quando o filho de Souza Aguiar foi promovido no Exercito em detrimento de Geisel. Por puro ódio e vingança, Geisel aproveitou seu poder de Presidente da Republica e simplesmente autorizou a demolição do Monroe, acabando com o premiado projeto do pai de seu inimigo. Ele teve um apoio importante de outra figura famosa:


Era Roberto Marinho, o jornalista e chefe das Organizações Globo. Que sempre apoiou os militares desde a época do Golpe. Aproveitando a grande circulação do Jornal O Globo, fez uma enorme campanha a favor da demolição do Monroe aproveitando-se da obra do Metrô. Choquei!Quase que diariamente O Globo publicava editoriais exigindo o desaparecimento do Palácio.Roberto Marinho sabia que falar mal do palácio, era agradar ao presidente.


No ultimo editorial publicado pelo Globo podia-se ler as seguintes palavras:


“Por decisão do Presidente da Republica, o Patrimônio da União já está autorizado a providenciar a demolição do Palácio Monroe. Foi, portanto, vitoriosa a campanha desse jornal que há muito se empenhava no desaparecimento do monstrengo arquitetônico da Cinelândia. (…) O Monroe não tinha qualquer função e sua sobrevivência era condenada por todas as regras de urbanismo e de estética. Em seu lugar o Rio ganhará mais uma praça. Que essa boa noticia, que coincide com o fim das obras de superfície do metrô da Cinelândia seja mais um estimulo à remodelação de toda essa área de presença tão marcante na historia do Rio de Janeiro”.


Outra personalidade que realmente militou pela demolição foi o arquiteto Lúcio Costa. Ele defendia também a demolição do Monroe sob o argumento de dar chance à arquitetura brasileira moderna. Especula-se que Lúcio Costa estava de olho no espaço, que já se cogitava transformar em estacionamento. Lúcio Costa chegou ao cúmulo de passar abaixo-assinados em associações de arquitetos para endossar a demolição do Monroe. Foi mal visto na época por seus colegas que nunca o perdoaram por esse gesto criminoso.


Do lado oposto à demolição estavam arquitetos, o CREA, o Jornal do Brasil, o Juiz Federal Dr. Evandro Gueiros Leite (que sugeriu que o Monroe sediasse o Tribunal Federal de Recursos, que estava sem sede), o Serviço Nacional do Teatro, a Fundação Estadual dos Museus, a Secretaria Estadual de Educação, e várias outros entidades importantes e principalmente uma significativa parcela do povo carioca.


Mas nada podiam fazer ante a caneta vingativa da ditadura.
Hoje tem pedaços do Palácio Monroe num monte de fazenda de milhionários espalhado por todo o Brasil.


Veja o que o jornal St Louis Republic disse do palácio:


ST. LOUIS REPUBLIC, 10 abril 1904
O Coronel Aguiar é engenheiro do exército brasileiro e foi quem projetou o edifício do Brasil na Exposição de Chicago, em 1893.
O Coronel Aguiar não se cingiu a regras estabelecidas ao projetar e construir essa pérola no diadema dos edifícios estrangeiros.
Na organização do trabalho influíram diferentes elementos: evolução das próprias idéias, apreciação das linhas gerais da exposição, estudo topográfico do terreno e do grupo de edifícios mais próximos.
A execução representa o que há de mais adiantado na arte de construir e já tem despertado muita atenção; sem dúvida, há de ser um ponto atraente para os visitantes interessados em trabalhos de arquitetura e construção.


Quem vem de Skinder Road para Clayton , vê surgir diante de si alvo e brilhante edifício, rodeado de graciosas colunas Coríntias; encima-o gigantesca abóboda .
O efeito é de fazer estacar, arrancando espontânea admiração; suas formas personificam a graça. Parado na estrada, observando, em vão se procura uma simples falha, um ponto onde a vista sinta a aspereza de uma linha, onde uma curva, uma janela, qualquer decoração enfim, desagrada: procura-se debalde.
Percebe-se a arte em todo ele: na simplicidade de sua grandeza, na simetria das dimensões, nas colunas, nas abóbodas laterais, no simbório, 135 pés acima do terreno. Essa construção representa um poema.


o palácio havia sido projetado para ser desmontável. em blocos numerados, para facilmente ser remontado em outro lugar e não foi feito.
                                                             
                                                                Palácio Monroe (funeral de Joaquim Nabuco).

                                                         
Foi desmontado de janeiro a março de 1976

A empresa que foi contratada para demolir o Monroe pagou apenas CR$ 191 Mil (cento e noventa e um mil cruzeiros) com direito de venda de todo o material. O Governo autorizou.

Só com a venda do bronze e ferro do Monroe, esta empresa faturou nada menos que CR$ 9 Milhões. Tudo foi vendido…

Vitrais, lustres de cristal, pinturas valiosas, estatuas de mármore de carrara e bronze, moveis em jacarandá a balaustrada de mármore. Havia uma escada de ferro em caracol que foi vendida pela pechincha de CR$ 5, 00 (cinco cruzeiros), o metro. Sem contar muitas outras peças. Grande parte do piso, com mais de 2000 metros quadrados, foram para o Japão. Tudo por causa do tipo de madeira: a peroba do campo.

                                   monroe48vc A volta do palácio Monroe 
Seis dos dezoito anjos de bronze foram parar na fazenda de Luiz Carlos Branco em Uberaba, além de alguns balcões de mármore e vitrais. Os leões que ficavam na escadaria na entrada do Monroe hoje estão no Instituto Ricardo Brennand em Recife, Pernambuco.

E esse foi o triste fim do Palácio Monroe                           
    Enquanto na Europa toda, os governos  reformam, aqui se leva à baixo  e não faz tanto tempo assim 1976, quase anos 80


4 comentários:

  1. Lúcio costa, Geisel e Roberto Marinho-brasileiros que nos envergonham, assim como nossos políticos

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  2. Pois é, e transformaram o lindo Rio de Janeiro, capital do Vice Reino, Reino Unido, Império e da primeira parte de nossa República ... no lixão arquitetônico que é agora.

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  3. É, meus amigos, que saudade! Em 1963 fui soldado do contingente do EMFA - Estado-Maior das Forças Armadas, lá no Monroe. Andei por todos os cantinhos daquele lindo Palácio, até brinquei de circular pelo que havia sido o plenário do Senado Federal. Estava lá, inteirinho! Sei tudo daquela beleza. Me emocionei quando presenciei a demolição.
    Lembro que sempre havia visita de missões militares norte-americanas ao comando do Estado-Maior. E eu, ingênuo soldado, não percebia nada.
    Mais tarde a História me ensinou tudo. Também, ali pertinho estava a Embaixada Americana, com Lincoln Gordon e Wernon Walters.
    Logo depois veio 1964.
    Precisava mais?

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  4. Aos poucos vamos nos tornando uma Miami paraguaia, descaracterizada e paupérrima em estilo e elegância. O Rio foi talvez a úvnica sede/capital de um império europeu a se instalar na América do sul. Éramos para ser uma espécie de Paris tropical, orgulhosos de nossa arquitetura eclética e luxuosa e não essa coisa indecifrável que temos nos tornado. Cabe mencionar o eterno e recorrente "desmonte" que acontece pontualmente em várias partes da cidade. O belo e histórico Cine Guaracy (na praça de Rocha Miranda, subúrbio do Rio) merecia ser comprado pela prefeitura e virar uma "Arena" (nos padrões das Lonas Culturais) presentes em alguns bairros. Lamentável tanto abandono... abraço! Luiz Claudio Lemos, Rio. lz.claudio@terra.com.br

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