Lar reúne preciosidades do design e do bom viver
Fonte: CasaVogue
Comissionado por Napoleão III, casado com Eugênia, a Lady Di do 19º fin de siècle, o barão Haussmann, prefeito de Paris, elaborou o projeto de reurbanização que, entre 1853 e 1870, transformou-a na cidade que tanto amamos. Com a implosão dos cortiços medievais descritos em O Corcunda de Notre-Dame e das tabernas dos revolucionários de Os Miseráveis (as duas maiores obras literárias de Victor Hugo), ela foi alçada a Cidade Luz, a primeira iluminada por rede elétrica. O traçado de regulamentos rígidos implantou os boulevards, a divisão em 20 arrondissements (distritos) e um novo partido arquitetônico residencial, baseado em quartiers com prédios de cinco andares e suas fachadas simétricas de pedra limestone, criando, dessa forma, a unidade harmoniosa que desenha a Paris neoclássica.Esses residenciais estão nos arrondissements centrais, como o 16º, ou melhor, le Seize, assim mesmo com maiúscula. É como o chamam os habitués do bairro mais BCBG (bon chic bon genre) da cidade, endereço deste apartamento com reforma e decoração assinados por Roberto Migotto, terceiro job do arquiteto na capital francesa.
“O projeto foi desenvolvido no Brasil, mas é obrigatória a contratação de um profissional francês para a execução. Contamos com advogados e um especialista que acompanhou o extenso processo burocrático”, explica o paulista de Taubaté, que festeja três décadas de atuação estrelada. Em seu interior, a planta de 290 m² reflete a elegância haussmaniana. Distribuindo os espaços com pé-direito de 3,50 m, o hall age como a artéria principal que leva aos ambientes o requinte do detalhamento de gesso nas paredes, a sofisticação do pisode parquet, o charme das lareiras de mármore, a dignidade das portas de folha dupla e a luminosidade natural de janelas verticais, equidistantes, que partem do teto, pormenores presentes neste projeto de Migotto, onde tudo reflete o classicismo parisiense chic. Très chic.
“Criei um décor elegante com um mélange de peças clássicas com o melhor do design italiano e elaborei uma cartela de beges, taupes e marrons com pinceladas de cores nas obras de arte contemporânea”, é como ele conceitua o trabalho que segue esse fio condutor logo ao abrir as portas do hall. Envolta no espaço de mármore de Carrara, arte de peso recebe o visitante. Uma é Vanité aux papillons, uma caveira de prata sobre bronze, do artista plástico francês Philippe Pasqua, a outra é Fractured mirror, obra representativa da série de grandes discos com superfície polida do aclamado Anish Kapoor, adquirida na Lisson Gallery, em Londres.Durante o ano devotado à empreitada, Migotto viajou a cada três meses para supervisionar a reforma e reunir o acervo do décor em endereços cultuados, como a Marc Maison, a Galerie Delvaille e a Maison Baccarat, e o casal de clientes ainda arrematou peças nos leilões da Sotheby’s, caso do bronze de meados do século 19 de uma corrida de cavalos do escultor animalier Antoine-Louis Barye, sobre a lareira do estar do grand salon. Ao final do dia, Migotto dava uma paradinha perto dali, na Carette, uma pâtisserie fundada em 1927, longe do circuito turístico. Naqueles momentos, deliciava-se com suasgourmandises, refletindo sobre a oportunidade de, mais uma vez, deixar sua marca em Paris. “É uma conquista gratificante”, complementa o árbitro do gosto.
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